Hoje é Domingo. Não é, mas é como se fosse. Tirei o dia para limpar e arrumar a casa como deve ser, por isso bafejar o dia soalheiro só pela janela quando estender a roupa. No entanto, saí de casa há bocado para comprar tabaco. Estou a reduzir (cigarrinho só depois das refeições, sendo que em muitos dias nem isso) mas apetecia-me fumar e não havia nada em casa. Indumentária: vestido cinzento, collants e as Melissa novas que afinal não foi nenhuma das que pedi, mas são giríssimas e - maravilha - servem-me! Maquilhagem, nem vê-la, só um brilhozinho nos lábios para compor. Afinal, ia só até ao café da esquina, onde bebo a bica diariamente desde há 4 anos, quando me mudei para cá, e onde já comprei maços de tabaco suficientes que em Euros dava para ir até Nova Iorque e ficar instalada no Hilton durante uma semana.
Peço o que tenho a pedir e do outro lado do balcão, a velhota responde-me:
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Tu tens 18 anos?
Toda eu corei. Se tenho 18 anos? Tenho 24, quase, quase nos 25. Noutras alturas, talvez daqui a 20 anos, se me tirarem 10 fico feliz, mas não quando quero comprar tabaco e não tenho o BI comigo, já que saí de casa SÓ para comprar tabaco.
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Nasci em '84, minha senhora, já tenho 18 anos, pelas minhas contas, há quase 7.
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Não me parece que tenhas 18 anos, e não te posso vender tabaco.
Fosga-se, já passei pela Universidade, já saí, já trabalhei numa data de sítios, vivo sozinha há 7 anos, fumo desde os 18 (curioso, no mínimo), já joguei em Casinos só pela piada, mas não achei piada nenhuma em si, e agora este dinossauro não me quer vender tabaco porque duvida da minha idade cronológica?? Ainda se fosse pela mental, aí tenho de reconhecer, muitas vezes pareço uma miúda de 5 anos, e outras vezes uma velha da idade dela, mas não, segundo o Registo Civil, tenho 24 anos, a completar 25 no fim deste mês, por isso, dê-me lá o tabaco e não se fala mais disso.
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Oh (i)Ana, anda cá! Esta menina não tem 18 anos pois não?
- as velhas do café todas a olhar para mim, como se eu fosse uma criminosa e a qualquer momento pudesse barricar-me lá dentro, usando as suas carcaças como reféns e moeda de troca (por tabaco) -
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Não parece ter, não senhora...
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Está bem, vou comprar a outro sítio...-
Vá, vá, diz lá qual é o tabaco...
O tom condescendente foi fofinho (afinal sempre era para vender alguma coisa). O tratar por tu, foi nota máxima como quem diz: "Não acredito em ti, tens 15 anos, queres engrominar aqui a velhota, e ainda por cima com uma merda que faz tão mal e que vai acabar por te matar", mas eu só queria o tabaco.
No fundo, deveria ter interpretado isto como sendo um sinal. Não é suposto eu estar a deixar? Devia ter ido para casa. Mas não... Assim que chego à rua, acendo um cigarro e nunca uma merda daquelas me soube tão bem...