quinta-feira, 19 de março de 2009

Dica Doméstica

Lavar uma panela, um prato, ou qualquer recipiente de cozinha que ficou esquecido por um mês ou mais, num sítio que vocês nunca se lembrariam de visitar, a menos que o cheiro incomodasse ao ponto de não conseguirem conviver, é terrível. Se vocês são daqueles que pegam no recipente e sem cerimónia nenhuma, mandam-no para o lixo, esta dica veio mesmo a calhar. Porque os tempos são de crise, e como a crise se instalou desde que D. João II morreu e não deixou sucessor à altura, temos de poupar. E a vossa amiguinha descobriu a solução ontem e não quis deixar de partilhá-la convosco.
Ora bem, para lavar esse nojo, preparem-se para apertar o nariz com uma mola. Pode doer um bocadinho no início, mas é daquelas coisas que tem mesmo de ser (como ir à depilação: doi, mas é por um valor mais alto (a)levantado, por isso vale a pena). Depois, juntam uma boa dose de raiva (por variadíssimos motivos, e cada um encontrará o seu - no meu caso, foi uma discussão com o homem cá de casa, que me tira do sério de vez em quando) e toca a puxar o lustro à coisa. Em menos de nada, o recipiente está limpo e a brilhar, de tal forma que conseguirão ver que a vossa face cheia de linhas de irritação, acabou por diluir-se na água e ficarão tão satisfeitos com o resultado que quase (atenção que eu disse quase) esquecerão o motivo pelo qual vos fez lavar aquela merda como se não houvesse amanhã.
Se forem do género limpinho, que não deixa nem um garfo do jantar para lavar ao pequeno almoço, na melhor das hipóteses, e ao jantar do dia seguinte, na pior, também tenho a solução: É deixar um recepiente sujo escondido do vosso campo de visão e de odor (sugiro a gaveta que alguns fogões têm), para momentos em que é amplamente necessário que, ao invés de destilarem raiva nos bibelots, ou no gato, serão canalizados para a panela nojenta.
No entanto, se vós fordes daquele tipo de paz de alma que não se azucrina com nada, só tenho uma coisa a dizer: bilhete directo, e sem escala, para o céu. Como eu sei que, das duas, uma, ou vou arder no inferno, pelo meu feitio tempestuoso (ou não fosse eu Carneiro), ou passarei largos tempos no purgatório, sendo motivo para diversas reuniões entre aqueles de direito, para decidir se a minha alma terá ou não salvação, tenho a certeza de que esta solução é óptima para mim.
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NB - O pomo da discórdia foi precisamente a louça que havia por lavar, coisa instituída e votada democraticamente, assente na Constituição Doméstica do Lar, em que o deputado Male faltou com os deveres (um dos poucos, no que toca à labuta da casa) para os quais foi investido e declarado, tendo o deputado Female ficado com trabalho a dobrar, comme il faut. A gata, representante do povo, sem direito a voto, senão nas eleições, resolveu manifestar-se à sua maneira, e esta noite dormiu, apenas e só, aos pés do deputado Female, e nem deu o beijinho de boa noite ao deputado Male. Está bem educada, está pois... É mulher e está tudo dito!

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