Sempre li muito, desde pequena. Lembro-me de devorar os livros que recebia nos anos num ápice, ficando feliz por ter chegado ao fim da história, e triste, contando os dias para o Natal, quando ia receber mais livros. Fui crescendo com os livros sempre comigo. Feiras do livro? Ia a todas elas e trazia sempre sacos cheios. E ainda hoje não consigo passar um dia que seja sem ler.
Desde cedo, talvez por ler muito, (e agora sem falsas modéstias, por favor) eram raros os erros ortográficos que dava. Lembro-me de no 5º ano, em plena aula de Português, a professora perguntar em voz alta
porque é que só a Laura é que não deu um erro que fosse no teste?, e a Sónia, uma colega que nunca mais vi, e que ainda imagino pequena e com 10 anos, respondeu baixinho
porque a Laura lê muito. Nunca me esqueci disto, e até há pouco tempo seria das poucas memórias que guardava com carinho e orgulho também.
Tive três anos de Latim. Confesso que só escolhi a disciplina para fugir ao horário da tarde... Geografia só havia à tarde. E eu sempre preferi as aulas de manhã. Olhar para a pauta dos exames nacionais, três anos lectivos mais tarde, e descobrir um 17,4 em Latim foi como que ser invadida pela sensação de dever cumprido. Isto porque o Latim ajudou-me muito a aprofundar o vocabulário, a compreender a sua origem e a ser mais rápida que o J. a fazer analogias de palavras nos concursos do Malato.
E porque tanta basófia agora, então? Porque não sei o que é que se passa comigo nos últimos tempos. Eu que até concorria ao concurso nacional da Língua Portuguesa, chegando a estar lá sentadinha e tudo, não percebo porque é que agora me saem tão facilmente um "Sim" como um "Cim" ou um "Esperienciar" e um "Experienciar", como denotei, cheia de vergonha, num comentário meu deixado num blog. E porque é que tenho dúvidas entre "Excusado" e "Escusado". Continuo a saber que se o dia é cheio de sol, é "Soalheiro" e não solarengo (referente a Solar) e que o plural de molho (de comer) diz-se "môlhos" e não "mólhos", que esses só os de feno e os chaves. Também não me esqueci que o verbo haver não tem plural para que não HAJA dúvidas. Sei-o HÁ muito tempo. Mas estou cheia de vergonha com o meu "Esperienciar".
Desconfio que me rogaram uma praga e até sei quem foi... um empregado do McDonald's do Chiado:
Pedi o que tinha a pedir e depois lembrei-me que o J. gosta particularmente de molhos. Pedi então os "môlhos". O empregado, com idade para estar a estudar, brinda-me com o seu melhor sorriso de gozo e diz: "ahahaha! môlhos.... Mólhos...".
Confesso que o que lhe disse depois não foi bonito, mas já que estamos a exorcizar (ou exorcisar?) fantasmas respondi o seguinte: "é muito triste ser-se BURRO e ainda ter orgulho nisso."
É praga, só pode... Bem, tenho os livros do António Lobo Antunes em greve comigo. Não lhes posso pegar até voltar a conhecer a nossa Língua como deve ser.